Quando o Trabalho se torna o Sintoma.
Quando o desejo de vencer na profissão , se torna uma dor.
Vias do Inconsciente - M.Silas Prado
10/8/20252 min read
Ao longo das últimas décadas, o mundo corporativo passou por transformações profundas, como já comentado de modelos industriais rígidos, marcados pela linha de produção, para modelos flexíveis e, aparentemente, mais “livres”. Contudo, o que se percebe, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, é que essa suposta liberdade carregou consigo novas formas de controle, mais sutis, porém mais perversas, muitas delas internalizadas pelos próprios sujeitos.
Na modernidade líquida, como define Bauman (2001), o trabalho tornou-se não apenas meio de subsistência, mas um espaço central na construção da identidade do sujeito. No entanto, esse espaço passou a ser também o palco onde se manifesta o sofrimento psíquico, que antes estava restrito a outros âmbitos da vida. Nesse cenário, a empresa emerge como um “lugar de sintoma”, onde as dores, angústias, frustrações e fantasias dos sujeitos não só aparecem, mas se amplificam, alimentadas pelas exigências incessantes de produtividade, inovação e resiliência.
Diante dos desafios do mundo atual, repensar como as organizações funcionam deixou de ser um luxo, virou uma necessidade urgente. Por muito tempo, o sofrimento emocional no ambiente de trabalho foi tratado como algo “normal” ou até mesmo como parte do preço a se pagar pelo sucesso. Mas essa lógica, que insiste em cobrar alta performance o tempo todo, exigir exposição constante e resultados a qualquer custo, acaba tirando o trabalho de um lugar de sentido e o coloca na rota do adoecimento. O que era para ser fonte de realização vira repetição exaustiva, sem prazer, sem pausa, e que, muitas vezes, adoece.
As novas gerações já estão dizendo com clareza: elas não querem mais esse modelo. Querem estar em espaços que façam sentido, que respeitem sua saúde mental, que ofereçam liberdade para criar e relações mais horizontais, sem autoritarismo. Isso representa um desafio enorme para quem lidera ou trabalha com gestão de pessoas. É preciso rever práticas, repensar posturas e, acima de tudo, abandonar a ideia de que liderar é controlar.
Hoje, bons líderes são aqueles que sabem escutar de verdade, que constroem confiança, que reconhecem que ser vulnerável faz parte da experiência humana. E que entendem que, no fim das contas, não é possível cuidar da produtividade sem cuidar das pessoas. Humanizar as empresas não é só uma escolha ética, é uma estratégia inteligente. Afinal, só há trabalho saudável onde a subjetividade de cada um é acolhida, respeitada e valorizada.
“O futuro das empresas não pertence a quem apenas entrega resultados, mas a quem constrói ambientes onde seja possível existir, criar e, sobretudo, viver sem adoecer.”[


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